Ninguém nunca ficou pra arrumar toda bagunça que ficou pela casa, toda sujeira espalhada no quintal, toda fumaça que impregnou em todas as paredes, todas as xícaras jogadas nos cantos.
Tudo sempre ficou pra trás.
Junto da poeira nos livros e do cascalho embaixo do tapete, ficaram soterrados alguns sorrisos, meio as lembranças e as guimbas dos cigarros que fumamos juntos, as latas de cerveja e a garrafa de tequila pela metade.
Ficou pra trás, como eu, que dia após dia ainda insistia em organizar cada pedaço de cada canto, e trazer de volta cada brilho de cada caixa, a cor de cada quadro, o som de cada disco. Mas eu nunca entendi o que acontecia. No fim do dia, quando a noite aparecia, deixava tudo escuro e triste, tudo se bagunçava de novo. E tudo ficava cinza de novo. Opaco. Sem cor. Sem som.
E a poeira tomava conta mais uma vez, e bem na minha frente, o brilho dava espaço a penumbra, o som da sua música preferida se tornava o silêncio mais alto, o cheiro de café recém coado, agora ardia. O caos me abraçava e me colocava pra dormir.
Não tinha o que fazer. Toda noite era assim, toda noite um novo fim.
E no outro dia, logo cedo, lá estava eu. De pé. Com meus panos na mão.
Pronta tirar você daqui, mais uma vez.
Jess Nunes
Mineira perdida procurando caminhos no céu cinza de São Paulo
29 anos de nada com nada
Assistente Social de formação e coração
Escrevo pra tirar do peito a pressão do mundo
e não gosto de pontos finais
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Jess Nunes,
Excelente texto!
Muito legal isso aqui!