Era uma quarta. Céu azul anil, calor insuportável e eu estava voltando de uma daquelas reuniões que poderiam
ter sido resolvidas com um e-mail. Como cereja do bolo, eu estava em direção a outro emprego, mais chato ainda
e com mais reuniões inúteis. O ônibus sacolejava de um lado para o outro enquanto andava pelas ruas
esburacadas.
Nesse vai-e-vem do ônibus, um homem de pele curtida pelo sol, olhos verdes e blusa preta de botão se
aproximou, sentando-se bem do meu lado. Esperou uns segundos antes de virar diretamente para mim e falar:
- Ei, moça! Desculpe incomodar, mas você parece ter bom coração e queria saber se poderia me ajudar.
Ele tinha um sorriso bonito, era um quarentão bem conservado. Retribui o sorriso (ainda meio desconfiada) e
deixei ele contar sua história. Era um homem sofrendo perdidamente por amor. Ele demorou o resto da viagem
todinha me contando todos os detalhes de sua trágica história de amor. Eles haviam terminado e ele estava
desamparado. Não parecia ser mentira, ou pelo menos, não quis acreditar que fosse mentira. Nesse desabafo teve
um fatídico momento que me fez rir, quando disse:
- Minha mãe olha pra mim e diz que estou reto, SEM BUNDA! Eu estou emagrecendo sem essa mulher!
Até que então veio o pedido, ele queria que eu mandasse mensagem para sua amada, porque ela o havia
bloqueado no Whatsapp. "Nossa, ele tá me transformando num cupido cibernético?", pensei. Aceitei na hora.
Tenho coração fraco para histórias de amor.
Durante alguns dias fui pombo-correio deles pelo Whatsapp. Não entendi muito bem porque não queriam se falar
diretamente, mas segui ajudando, pois minha curiosidade era grande. Descobri que aparentemente tinha sido
tudo um grande mal entendido e que os dois realmente deveriam reatar a relação. Quando finalmente deixaram
de se comunicar comigo, me senti esquisita. Estava gostando daquele desenrolar de novela.
Sendo assim, segui minha vida com aquela sensação de "Ah, vai ser mais uma história para contar numa mesa de
bar." Meses depois apenas recebi uma mensagem ao mesmo tempo dos dois pombinhos. Era um convite de
casamento. Eu, que sou adepta da breguice, achei um mimo as letras cursivas misturadas a umas imagens dos
dois e folhagens verde musgo. Ao final do vídeo, assustei. Me convidaram para madrinha!!! Que fofo.
Compareci à cerimônia de bom grado e curti a festa como se fosse amiga dos dois por anos.
Gostei dessa coisa de ser cybercupido.
Anônimo(a)
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Nossa eu queria morar nessa história!