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Coleciona(dor)




Desde a infância

Meu passatempo é colecionar...

Ainda bem pequeno,

Eu colecionava figurinhas.

Colecionava meus desenhos.

Fui crescendo, mas não deixei de colecionar.

Colecionava tudo.

Colecionava de tudo

Livros...

Canetas...

Chaveiros.

Mas, como um verdadeiro colecionador,

Minha real coleção era de dor.

Sou um coleciona(dor).

Eu colecionei a dor do primeiro Amor que acabou.

Eu colecionei a dor da primeira ofensa que sofri pela minha cor.

Eu colecionei a dor de ver meus pais se separando,

E da minha vida se dividir.

Eu colecionei a dor de deixar meus amigos de infância na cidade em que

cresci...

A dor de deixar para trás as minhas melhores coisas vivi.

Eu colecionei a dor do primeiro abuso que sofri.

Um coleciona(dor).

Mas eu nunca deixei de colecionar.

Canecas...

Filmes...

Roupas.

Mas como verdadeiro colecionador,

Meu item de maior valor,

Era a dor...

Sou um coleciona(dor)

Colecionei a dor da primeira decepção,

Ao ver minha paixão nos braços de alguém que se dizia um novo amigo.

Eu coleciono a dor de um novo abuso me tirando de vez a inocência...

Eu coleciono dor.

A dor de perder a fé em meus dons...

E na minha conexão com o Divino, por não me achar digno...

Merecedor.

Por não querer mais ver o pior.

Por não saber mais como lidar.

Por sempre sozinho estar.

Eu coleciono a dor.

A dor de bater no fundo do poço da depressão...

Após ser traído pelo amigo que era mais que um irmão.

Coleciono a dor da traição.

Por ser abandonado por aqueles que pensei ser família.

Me tornei colecionador da solidão.

Marcas que jamais sairiam do meu coração.

Mas, eu nunca deixei de colecionar...

Músicas...

Sorrisos...

Poesias.

Mas como um verdadeiro colecionador,

Eu coleciono dor.

Sou um coleciona(dor).

E colecionei a dor de não ser mais tão vivo como eu era antes da depressão.

Colecionei a dor de não encontrar um motivo...

Uma razão,

Para continuar a viver.

Colecionei a dor de só a morte eu amar. De só a morte eu querer...

Desejar.

Mas sou um colecionador, e nunca deixei de colecionar.

Amigos...

Pedras...

Espinhos...

Bichinhos.

Como um bom colecionador que sou...

Eu coleciono dor...

Sou um coleciona(dor)

Eu colecionei a dor de ser o cúpido para minha amada encontrar o seu

verdadeiro amor.

Eu colecionei a dor de ter medo de me entregar para um novo amor,

Que anos depois voltou...

Só para me destruir.

Me transformou.

Eu colecionei a dor de não ser bom o suficiente para agradar ao meu Senhor.

Como verdadeiro colecionador...

Colecionei a dor de ter esperança e a perder.

Colecionei a dor de não conseguir ser o verdadeiro amor de ninguém.

Colecionei a dor de não ser bom o suficiente...

Nunca sou.

Sempre querem mais...

Esperam mais de mim.

Colecionei a dor de todos os meus sonhos que não mais existem.

Mas, como um bom colecionador que sou...

Coleciono coisas naturais.

Tenho minha coleção de coisas abstratas.

Porém, no meu coração...

Guardo minha real coleção.

Afinal,

Sou um colecionador.

Coleciono(dor).

 

Robson Machado


Robson Machado é escritor e poeta autista. Com 30 anos de idade é mineiro de Belo Horizonte e escreve de forma intensa e profunda o que lhe vem a inspiração, como temas de amor, dor, morte e motivação. Fortemente inspirado pela escola literária do Romantismo.












 

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