A vida é como uma tela de pintura em branco,
Pronta para ser pintada...
Trabalhada...
Por fim, concluída e admirada.
E eu...
Eu era nada mais do que uma dessas telas em branco...
Na qual o meu círculo familiar começou a desenhar...
As amizades vieram logo depois e continuaram a me pintar...
Em algo belo comecei a me transformar...
Tão único em minhas cores.
Quando o primeiro amor chegou,
Em uma verdadeira obra de arte me transformou...
Com novas cores, novos desenhos...
Novas formas.
E quando a primeira à me amar se foi,
Um tom mais sombrio em mim ficou...
Foi o primeiro borrão escuro a me manchar.
Mas a obra não parou e nem podia parar...
Eu era uma tela inacabada...
Precisava me terminar...
Ainda haveria muitos outros artistas por pintar-me.
E fui atrás de novas cores...
Novas formas...
O tempo passou...
E passou o tempo...
Uma tela quase completa eu já estava, quando a uma nova artista foi-lhe
confiada a me pintar...
Seria a última a dar um toque na tela e finalizá-la.
Em suas suaves mãos os melhores pincéis...
E a sua disposição as melhores tintas...
E apenas um pedido...
Um único pedido.
- Cuidado na hora de aplicar!!!
- A tela muito gasta e fina já está...
Muitos artistas pintaram, desenharam, até mesmo a mancharam...
Frágil está.
Não vá rasga-la e nem mancha-la, pois talvez não se encontre artista com dons
necessários para recuperar...
Se por acaso você a deformar...
Ela quase pronta já está.
Dê os toques finais.
Sem exageros...
Sem excessos...
Deixe a sua expressão.
Termine a pintura.
Mas as suaves mãos fizeram mais do que apenas marcas...
Os delicados gestos fizeram bem mais do que apenas manchas...
Foi além...
Muito além do que eu poderia imaginar...
Com brutalidade a artista com o lado inverso do pincel,
Começou a pintura a rasgar...
E doeu...
A artista sem dó me destruiu...
Deformou a tela em rasgos...
E com cores escuras deixou as partes que por sorte inteira ficou...
A obra de arte,
A beleza quase completa...
A pintura pintada por tantos artistas...
Após tantos anos de trabalho,
Agora nada mais era do que um monte de rasgos sem cor...
Sem vida...
Sombria.
A artista ainda tripudiou...
Jogou a tela em qualquer lugar...
Sem pensar.
Sem se preocupar...
Sem se importar e se foi...
Simplesmente se foi.
Muitos artistas passaram depois,
E olhava para a tela abandonada,
E como suspeitado nenhum quis aquela tela restaurar.
Rasgada demais, era o que todos diziam...
Cicatrizes demais, mesmo se alguém conseguir a recuperar...
Sem vida, sombria, escura demais para alguém admirar...
Só tristeza essa pintura me transmitiu...
Ninguém a pegou...
Com inúmeras desculpas,
Ninguém a remendou...
Novas cores à ela ninguém adicionou...
E lá ficou,
A tela que um dia poderia ter sido admirada nos mais lindos museus...
Agora está na largada em uma sarjeta qualquer...
Abandonada...
Esburacada, manchada, destruída.
Empoeirada em um canto, esperando uma artista capaz de restaurá-la...
Resgatá-la.
Alguém que junte e o cole os meus pedaços...
E assim, uma pergunta ecoa no ar...
Será que algum dia alguém será capaz de me amar?
Com as cicatrizes dos remendos,
Que irá ficar, alguém ainda assim poderá me admirar?
Mesmo que alguém disponha a me remendar,
E aplicar novas pinturas no lugar dos remendos...
A tela nunca mais será a mesma...
Nunca mais serei igual a antes, mesmo se eu quiser...
E assim sendo,
Alguém poderá me amar?
Nunca mais serei uma obra de arte tão bela como as outras telas...
A pergunta ecoa...
Buscando respostas que me dê esperança.
Mas ainda estou jogado na sarjeta... Sem vida.
Uma tela rasgada...
Sem cor...
Sem amor...
Largada...
Perdida,
A tela está.
Robson Machado
Robson Machado é escritor e poeta autista. Com 30 anos de idade é mineiro de Belo Horizonte e escreve de forma intensa e profunda o que lhe vem a inspiração, como temas de amor, dor, morte e motivação. Fortemente inspirado pela escola literária do Romantismo.
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