05 de setembro
- palavrasbrutas
- há 2 dias
- 2 min de leitura

Anoitece
e o vizinho de porta me pede
que lhe empreste a minha
churrasqueira. Ela é minha,
mas não paguei por ela.
Faz tempo que não pago por nada,
e os juros que pago são nada mais
que os juros do estômago.
Me lembro de um editor de livros
que dizia que era lamentável
essa coisa de ter que comer todos
os dias e me lembro de Kheti que
dizia que não havia pobres entre
os escribas. Assam a carne na
minha churrasqueira e eu masco
chicletes para esconder a fome
“estou de dieta” eu digo, pois
corpos gordos nunca podem estar
famintos.
Escrevo poemas como se fecham
persianas e me deito em tapetes
persas imaginários, um tarólogo
amador me disse que eu sofreria
se visse a foto dela numa rede social
se eu não renegasse o amor
e uma outra taróloga, também
num trabalho amador, me disse
que de tudo que eu tinha, o mais
bonito que havia era esse amor.
Sou profissional de escrita,
não amador, e tudo que eu faço
e mascar as palavras como se
masca chiclete, que é goma
nunca marca.
Conto as moedas e compro
um salgadinho de milho,
sabor churrasco
Rafael Assis

Escritor, poeta e resenhista. Criador do blog "Um de Tudo" como um arquivo, um portfólio, um local de posts difusos buscando ser uma mapa para as diversas produções que tomam forma quando encontra-se com o papel.
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