Os prazeres dos brinquedos quebrados

palavrasbrutas
há 4 dias
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Nunca gostei de toy story, sei lá, não clicou.

Colocaram pra minha turma assistir quando estava na terceira (ou quarta) série e enquanto algumas crianças criavam memórias afetuosas com os bonecos eu só pensava que queria meu dinheiro de volta.

Mas uma coisa ali talvez faça sentido, e não é uma metáfora sobre amadurecer e sim a loja onde todos os brinquedos ficam em prateleiras, idênticos alinhados numa fila a se perder de vista, mas o que geraria uma consciência ali? Talvez nada além da própria trama do filme, mas to me perdendo aqui.

Vamo voltar

Pegando uma conversa de gaiato como faço muito, essa eu intervi, e não só intervi como acrescentei com a pequena trívia de filmes: esse filme é o “carros”.

Ele me olha concordando e conta com uma certa leveza que após uma senhora passar, ele diz que ela poderia não estar fumando pedra e ao invés disso cuidar dos filhos!

Aquela mulher era sua mãe, e a minha resposta pra trívia que estava no ar vinha do fato de seu pai colocar o filme “Carros” e fazer sexo com a mae. Esse ritual acontecia bastante, mas ele não dormia mais, ficava vendo de “butuca” os pais transando enquanto o carro lá do filme passava por algum arco dramático que ele nem prestaria mais atenção.

Eu só me via pensando na metáfora que tanto eu quanto ele somos bonecos ali inocentes e isentos a tudo, até que a vida nos quebra e deixa tudo obscuro numa carcaça que ainda tem tanto a evoluir.

Eu sei lá se esse cara (não sei seu nome) tem fantasias sexuais estranhas que nem preciso mencionar, mas sei que esse brinquedo após passar pela caixa registradora, sua vida nunca mais será a mesma.

Eu ajudei ele a resolver uma questão aritmética e ambos seguimos o nosso caminho

Edvaldo Ferreira

Criador do Palavras Brutas, escritor amador de ocasião.

Em busca de entender o que sinto através da palavras, ou se não, em busca da jornada constante de autoconhecimento e afeto próprio.

Fascinado com cinema e música.

Futuro agitador cultural.

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