top of page

Sinédoque Venda Nova

palavrasbrutas


Em 2015 eu me apaixonei, nunca a vi. Fiquei com medo de estar tão apaixonado por alguém que nunca tinha visto pessoalmente, as conversas eram incríveis e criativas! As ligações eram como se fosse algo de outra dimensão. Clichê né? Todo jovem e clichê, não lute contra isso.

Um dia ela me deu uma indireta que gostava de mim, mas eu era muito jovem pra ela com seus áureos 26 e eu com 19. Não parecia ter muito futuro. Depois vi sua foto com um homem com barba é pensei "e isso". Cultivei minha barba de modos não naturais, afinal nem meu pai e minha mãe tinham barbas fechadas. Eu tô avançando demais, vamos voltar um pouco.

Quando percebi que esse amor virtual não tinha futuro, fiz o que um jovem sonhador faria. Bolei um argumento complicado pra um filme mascarando o simples fato que estava de coração partido. Era uma história cyberpunk mesmo sem eu conhecer o termo. Pensei nas pessoas andando pelas calçadas da Vilarinho com a cabeça baixa e uma forte luz vindo dos seus celulares, todos eles com o coração digitalmente partido. Com os números projetados em cima de suas cabeças ( 01000011 01101111 01110010 01100001 11100111 11100011 01101111 00100000 01110000 01100001 01110010 01110100 01101001 01100100 01101111 00100000 ).

Caso estejam com preguiça e queiram valorizar meu esforço, tá escrito "coração partido em código binário". Maneiro né?

Enquanto pensava nesse filme que ainda não existia, via os holofotes me iluminando e que me sentiria vazia pela fama.

No busão voltando de uma viagem de trabalho passei na antiga fábrica de massas de pastel do comerciários, porque estava rolando um aniversário. La fui pedido a não mencionar que tinha me relacionado com uma mina, porque o novo namorado estava lá, é ele não sabia da gente. Foi uma trama legal pra uma noite quente.

Eu não sabia como continuar essa história, então corri com o rabo entre as pernas. Mas em todas as rodas de conversa adorava me gabar que tinha um roteiro para um filme (mesmo que ainda não escrito).

Lembra da diferença de idade? Se não eu relembro. Eram sete anos, nome que batizei o projeto que agora já estava escrito, porém ruim! Muito ruim.

Reescrevi algumas vezes, mas nada que me deixasse satisfeito com o resultado. Antes queria uma distopia megalomaníaca, agora queria uma história contida que explorasse elementos da espiritualidade, um assunto que me atraiu muito nós últimos anos.

Antes eu não escrevia, hoje eu escrevo. Com o sonho de ter meus roteiros tomando vida nas telinhas e nas telonas, me mantenho firme no sonho.

Dentro desse roteiro eu coloquei uma arma de chekvoh. Os personagens nessa distopia podem armazenar suas memórias nos objetos, e caso elas querem o objeto a memória desaparece. Tive essa ideia antes de conhecer Black mirror. Eu tive essa ideia por um dia abrir minha gaveta cheia de tralhas e perceber que cada uma delas guardava uma memória de algo. E eu que tenho uma péssima memória pra mim seria ótimo esses objetos.

Eu queria escrever um conto sobre escrever um conto sobre um cara que escreve um conto porque seu coração foi partido. Mas aí assisti sinédoque Nova York e vi que assim como eu, o Charlie Kaufman não sabe falar sobre amor.

Então estou eu aqui, escrevendo sobre mim, tendo sonhos de viver da escrita. Um sonho dentro de uma realidade onde eu moro em Venda Nova e precisaria escrever um texto sobre Venda Nova para participar de um edital da Academia Vendanovense de Letras. É eu como um Vendanovense não podia ficar de fora.

Na verdade eu não pensei na Vilarinho a época com as cabeças tristes, não pensei em nenhum lugar em específico, mas meu amor por esse lugar cresceu tanto dentro de mim ao ponto de me posicionar ideologicamente em prol da região que era pra dormir, mas ela pulsa demais arte pra ser só um dormitório.

Deixo um recado para a juventude que me foi aconselhado: "não escrevam sobre amor".

Deixem tudo escondido numa trama emaranhada para esconder que um dia teve seu coração partido.





*Texto criado para a coletanea Venda Nova em Arte: Acesse gratuitamente aqui. https://www.palavrasbrutas.com/post/colet%C3%A2nea-venda-nova-em-arte

 

Edvaldo Ferreira


Criador do Palavras Brutas, escritor amador de ocasião.

Em busca de entender o que sinto através da palavras, ou se não, em busca da jornada constante de autoconhecimento e afeto próprio.

Fascinado com cinema e música.

Futuro agitador cultural.


 

Considere se tornar um apoiador desse projeto. Fazendo um Pix para: edvaldorocker@hotmail.com (Edvaldo Ferreira Viana) criador do blog. Com a sua colaboração, podemos dar continuidade com o projeto e remunerar os autores mesmo que de forma pequena, incentivando os artistas a continuarem produzindo suas obras. E considere nos seguir no instagram @palavrasbrutas.

16 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Nós Somos

Comments


Post: Blog2 Post
bottom of page